Contar e ler histórias qual a diferença e a importância

Todo mundo carrega consigo histórias. Algumas são aquelas que crescemos ouvindo – passadas de geração em geração como pequenos tesouros; outras encontramos nas páginas de livros que nos fizeram rir, chorar ou questionar. Desde os tempos mais distantes da humanidade, histórias têm sido uma forma poderosa de entendermos o mundo, de nos conectarmos uns com os outros e, acima de tudo, de nos descobrirmos.

Mas já parou para pensar na diferença entre ouvir uma história contada e ler uma história no papel? Pode parecer óbvio à primeira vista: contar envolve o som da voz, gestos e emoção ao vivo; ler envolve páginas silenciosas (ou talvez telas brilhantes) onde cada palavra exerce seu próprio peso. Só que a coisa vai bem mais fundo. Contar e ler não são apenas estilos ou ferramentas diferentes para compartilhar mensagens. Cada prática carrega consigo significados únicos, modos próprios de nos impactar – tanto individualmente quanto coletivamente.

Pai lendo livro com filhas
Importância de conta histórias para crianças

Hoje, vivemos em tempos onde os dois modos coexistem, mas nem sempre com o equilíbrio ideal. As histórias contadas parecem estar se perdendo em um mundo onde as telas tiram espaço do olho no olho. Os livros seguem firmes, ainda bem! Mas será que as pessoas têm deixado que esses textos as envolvam de verdade, com toda a atenção que merecem? Não são questões fáceis de responder. São reflexões urgentes quando falamos da importância de histórias na formação da nossa identidade humana.

Então vamos dar uma olhada mais atenta nisso. O que significa exatamente “contar histórias” versus “ler histórias”? E por que essa distinção importa tanto? Quem sabe, ao explorar essas questões juntos, possamos redescobrir um pouco da mágica que esses atos carregam.


O que significa contar e ler histórias?

Para entender como contar e ler histórias são diferentes (e complementares), é preciso dar um passo atrás e pensar no que está por trás dessas práticas tão antigas quanto a humanidade. No fundo, ambas nascem do mesmo desejo: guardar experiências, compartilhar visões do mundo e transmitir emoção.

O poder da oralidade

Contar histórias faz parte de quem somos – tão natural quanto o ato de respirar ou sentar-se à mesa para uma refeição. A forma como fazemos isso… bem, aí começam as particularidades.

Contar histórias foi provavelmente a primeira forma de arte criada pelos nossos ancestrais. Muito antes de surgir a escrita, já nos reuníamos ao redor das fogueiras, valendo-nos de palavras, gestos e tons para contar as aventuras do dia ou criar histórias sobre os astros no céu. Esses momentos não eram apenas passatempo; eram um modo de registrar ensinamentos, criar laços entre as pessoas da comunidade e até conectar-se espiritualmente.

Quando você ouve alguém contar uma história hoje – a avó relembrando sua juventude ou um amigo bem-humorado relatando uma viagem maluca – algo desse mesmo dinamismo ancestral acontece.

A introspecção da leitura

Já a leitura começou bem mais tarde na nossa linha do tempo como espécie. Surgiu com a escrita – um avanço monumental que mudou tudo porque permitiu imortalizar as narrativas para além da memória humana falível. Com isso vieram também mudanças profundas na forma como absorvemos histórias.

Ler não requer a presença física imediata do contador – o autor pode estar a milhares de quilômetros ou ter vivido séculos atrás! É quase como ler pensamentos encapsulados, uma conversa íntima com alguém que você nunca viu.

Se colocarmos lado a lado, contar e ler parecem opostos: um depende do calor momentâneo da interação direta; o outro reverbera no silêncio introspectivo das palavras escritas. Mas ambos convergem em um ponto central: têm a capacidade de criar universos inteiros dentro de quem ouve ou lê.


Oralidade e leitura: universos que se complementam

Há algo tão humano no ato de contar histórias… Imagine uma roda de amigos em volta de uma mesa ou uma fogueira (moderna ou ancestral, não importa). Alguém começa a contar um episódio engraçado, outro entra com um adendo, gesticula apaixonadamente para dar vida à cena. Você percebe? É comunhão pura. O narrador não só transmite a história: ele molda seu ritmo, ajusta o tom para seu público. E isso cria um vínculo imediato.

Quando palavras são pronunciadas ao vivo, carregam nossa energia, nossa emoção – é isso que as torna únicas.

Ao ler uma história, somos transportados para um universo completamente diferente. A conexão ainda existe, mas se move em outra direção: uma que nos coloca lado a lado com o autor, como confidentes secretos. Não há voz materna conduzindo as palavras nem risos no meio da narrativa; há apenas as nossas interpretações e os ecos deixados pelo texto. É um tipo diferente de magia. A introspecção chega forte aqui, porque ler pede silêncio. Pede que você se transporte sozinho – por meio das palavras – para um universo novo.

Essa dualidade nos leva a pensar não só nas preferências pessoais (uns são mais chegados a ouvir; outros, a ler), mas também em questões práticas e até culturais. A oralidade tem um apelo democrático: pode ser acessada por todos, independentemente da alfabetização, situação econômica ou barreiras físicas. É isso que faz com que ela transforme realidades em lugares onde livros são raros ou vistos como artigos de luxo.

Ler também guarda transformações poderosas: textos bem escritos têm o poder de despertar novas formas de pensar e expandir nossa visão do mundo como poucas atividades conseguem.


Tradição oral: memória viva das culturas

Em muitas culturas ao redor do mundo, as histórias contadas venceram o tempo e continuam vivas porque foram transmitidas pela voz e pelo coração. Povos indígenas brasileiros, por exemplo, carregam mitos e ensinamentos ancestrais que não estão fixados em papel ou tela: eles vivem nas vozes dos mais velhos da tribo. E esse “viver” é literal. Basta uma geração quebrar o ciclo oral para que séculos de conhecimento possam desaparecer.

Essas histórias contadas coletivamente costumam reforçar quem somos. Nos lembram de nossas raízes ou dos laços que compartilhamos como grupo. Elas preservam valores e identidades. Isso é algo único – um livro pode ser eterno fisicamente, mas sua relevância depende muito da leitura ativa; já a memória coletiva funciona quase como um organismo vivo.


Ler para crescer internamente

Se as histórias orais criam laços comunitários, os livros frequentemente constroem fortalezas dentro de nós mesmos. Estamos falando não apenas de conhecimento amplo ou vocabulário sofisticado – esses costumam ser frutos naturais da leitura –, mas da maneira como as histórias escritas moldam nosso pensamento crítico e nos tornam mais conectados emocionalmente com os outros.

Quando pegamos um romance denso ou uma crônica social instigante, nos envolvemos com personagens (e situações) tão íntimas que começamos a nos ver refletidos.

O autor nigeriano Chinua Achebe disse uma vez: “Se você não gosta da história que estão contando sobre você, escreva a sua própria.”

A prática literária tem a capacidade de transformar ao questionar as normas culturais ou sociais que moldam nosso mundo. As histórias lidas podem fazer revoluções silenciosas dentro de nós, mudar realidades externas conforme mudamos nossa própria perspectiva.


Era digital: o futuro das narrativas?

Agora estamos entrando numa nova fase dessa longa jornada histórica com as histórias: a era digital. Podcasts reanimaram as narrativas orais? Sim! Só que agora elas chegam em fones de ouvido conectados ao Spotify ou ao YouTube. Audiolivros permitem revisitar clássicos exalando aquele calor humano da voz narrada – enquanto leituras digitais desafiam os formatos tradicionais de onde nossas aventuras literárias vêm.

Mas será que estamos realmente consumindo essas histórias (orais ou escritas) com profundidade… ou só passando os olhos numa tela sem prestar muita atenção? Essa é outra reflexão para guardar junto ao impacto da tecnologia aqui.

Se tem algo que fica evidente, é que imaginar a contação de histórias e a leitura como rivais é enxergar a questão de forma equivocada. Nossa experiência humana pede ambas as coisas – e elas atendem necessidades diferentes. Por isso precisamos valorizar tanto um contador de histórias num encontro familiar quanto um autor genial escondido numa prateleira de livraria.

Seja ao som das palavras ditas ou no silêncio meditativo da leitura, essas práticas moldam quem somos, fortalecem nossos laços e nos permitem sonhar mais alto. No fundo, a escolha entre ouvir ou ler talvez nem importe tanto assim… desde que aproveitemos a chance de explorar os vastos universos que ambas as formas têm a oferecer.

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